18 de abril de 2011

Sr. Y. diz:


A verdade é que um homem pode perder o dinheiro, os dentes e até a vontade de viver. Não há nada que ele não possa perder; perde também imperceptíveis partes de si, gases que se vão, pedaços de pele, unhas, merda, óleo. E apanha o mundo nas partes do seu corpo, mas, o que é o seu corpo e o que é esse mundo, meu camarada? Que homem é esse que sai para a labuta e volta o mesmo, mas tão diferente que seria impossível dizer que ele é ele? Você não percebe - diz o velho Saulo a Samuel -, meu homem, que quando saí eu ainda não tinha visto aquela boiada rasgando a velha estrada, assim como um dia eu tinha esses cabelos curtos e, agora, além de os ter alvos & longos, também manquitolo?

Samuel segurou o lampião com as duas mãos e o pousou sobre a mesa. Disse: Só sei que me chamo Samuel e isso é tudo, oras. Mas sabia também, por exemplo, das tardes passadas deitado com os moços na relva, ali próximo do ribeirão, enquanto Saulo cruzava o mundo. Ele mesmo permanecia de longe, mas se deleitava com os corpos seminus se lançando à água e trabalhando em brincadeiras de força e delícia. Mas precisava de um jogo com Saulo, o maldito, mesmo que um jogo estúpido – e o que faz de um jogo estúpido? De nós três, eu era o único que me mantinha em jogo ao mesmo tempo que permanecia à borda, quase fora das quatro linhas (ou do círculo). Saulo e Samuel sempre se atiraram mais para dentro da demarcação, no que se refere a “eles”, mesmo que o jogo não lhes fosse o predileto. Mosca morta, esse aí, às vezes Samuel dizia de mim. Saulo apenas me provocava com olhares e vez ou outra com um tapa de leve nas minhas nádegas – Ei, seu, quem te disse que podia...? – ou com uma baforada de fumaça do cigarro bem nas minhas fuças. Já entre os dois funcionava de um jeito evidentemente mais intenso, se é que esta é uma boa palavra para descrever como se dava a relação onde um implicava o outro sempre que possível, mas, claro, cada qual a sua maneira: Samuel sempre com resmungões sôfregos e Saulo com saltos e discursos alucinados. Não preciso dizer que me aprazia muito mais o jeito de Saulo, o facínora e sua pose profética, mas como já dissera, eu girava mais pelas beiradas do que avançava para o miolo, tateando as cordas enquanto o combate se dava no círculo central...

- Que me importam suas insalubridades?

Saulo olhou para a porta, apontou com o dedo, disse que lá longe existia um novo ferro velho, precisamos aportar lá em busca de diversão, seu velho viado de uma figa. (Nesse trecho da carta estranhei. Antigamente Saulo faria menção a um puteiro ou, pelo menos, a um boteco onde se pudesse arranjar uma garrafa de aguardente ou uma boa briga ou o que seria melhor: simultâneos os dois itens. Tentei descobrir que diabos o velho Saulo iria querer com um ferro velho, mas logo a resposta viria no decorrer da carta). O velho pigarreou e disse com voz de trovão – cuja vibração posso sentir aqui, agora mesmo, enquanto deito essas palavras – lá nos fundos do ferro velho tem uma espécie de galpão para onde eles levam umas garotas, juram que são maiores, mas duvido, e a gente pode dar tapas nas caras delas, Samuel, sua bichona, você iria adorar. Dito assim parece uma espécie de ritual satânico, mas que nada, Deus sabe que não, porque elas gostam, sabia? Elas pedem. Quero dizer, no começo não, no começo a maioria delas parece amedrontada e com certeza enganam a maioria dos figurões que aportam lá, eles pagam uma nota pra poder dar na cara delas, mas, como eu dizia, elas entram com aquelas caras de mijonas, mas eu sou um homem marcado pelo tempo, macaco velho sacana de uma figa, percebo logo que não passa de conversa fiada: elas chegam daquele jeito para deixar os infelizes excitadinhos por se sentirem no poder. Depois dos primeiros tapas, para dar continuidade à brincadeira, elas mudam o comportamento: iniciam uma espécie de rebelião, ofendem aqueles que as espancam e aí apanham ainda mais e passam a implorar por uma bela surra e há gente se masturbando pelos cantos e seguem assim, uns batem, outros apanham, mas fica nisso, não se pode ir além, é a lei, mas é quase divertido, você deveria tentar, Samuel, meu velho. Ou talvez preferisse apanhar, porque, de qualquer forma, aquelas meninas parecem receber um bom dinheiro pelos safanões que recebem.

Quando Samuel se aproximou de nós? Parece que foi quando me mudei para outra cidade, na época em que Paulo nasceu. Saulo andava muito próximo a um contrabandista, fazendo pequenos trabalhos para esse cara para ganhar algum dinheiro e comendo a mulher do dito cujo sem, é óbvio, que esse soubesse. Um dia Saulo salvou o filho do homem ministrando algumas poções preparadas com ervas – conhecimento de muitas gerações – e recebeu, por isso, algumas peças de ouro (não é porque não esperava recompensa nenhuma que Saulo a recusou). Quando conseguiu um contato para vender o material, conheceu Samuel, guarda costas do tal receptor e, no mesmo instante resolveram que precisavam encontrar um lugar, depressa, para darem conta de uma atração implacável. Saulo enrabou Samuel enlouquecidamente em um lavatório, dizendo, QUE AS PALAVRAS DO SENHOR ENCONTREM O TEU CORAÇÃO, INFIEL! Mas posso estar enganado, já vi tanto Saulo quanto Samuel contarem pelo menos três ou quatro histórias bem diferentes. O ponto é que, a partir daí a relação tomou outros rumos, eles inventaram maneiras de estarem juntos, Saulo casou-se uma época com uma mulher vinte anos mais nova que ele, mas quem cuidava da garota era Samuel, se é que você me entende, enquanto Saulo saía em suas andanças; Saulo e Samuel viveram separados por quinze anos, comunicando-se apenas por cartas; Saulo e Samuel foram vizinhos e brigaram por causa do cachorro que Saulo tivera, à época, porque ele urinava nas begônias de Samuel; Saulo e Samuel montaram um negócio; Saulo e Samuel faliram, etc, um enorme enfadonho contar a história desses dois, SAULO & SAMUEL, mas o fato é Saulo sempre precisou cruzar as cidades e, ao retornar, me mostrava por onde passara, desenhando um mapa sem o menor pudor cartográfico, isto é, não se tratavam de léguas, nem meridianos, tratavam-se de parâmetros doentios: Quantas bundas havia comido? E bocetas? Como sobreviveu embriagado por tanto tempo? Brigas: ainda doía aquela cadeirada? Houve algum “encaixe” mal elaborado? Cada chupada, como havia sido? E aquela história de queimar o outro com cigarro? Para que lugar não deixava nunca de retornar, sem nunca, na verdade, voltar, desenhando parábolas cada vez mais abertas, no limiar da explosão?

Samuel também tateava limiares, mas de outra ordem, passeava um tanto próximo aos meus territórios, sem, porém, arremeter-se contra eles. Odiava Deus, julgava Saulo um pequeno aproveitador, disseminando a palavra, blá, blá, blá, era assim que ele se referia ao que Saulo considerava NECESSÁRIO & DESEJÁVEL: QUE O PECADO CAIA SOBRE TUAS CABEÇAS COMO UMA CHUVA DE PORRA SOBRE UMA LÍNGUA SACIOSA, alguma coisa assim. E Saulo lavava as cerâmicas, limpava o chão, tingia os tecidos, cerzia cuidadosamente cada detalhe nas túnicas, comia apenas o suficiente, não por obrigação ou temor, mas por sabedoria, o semblante sempre confiante e alegre, as palavras ditas pausadamente, refletidas e macias: o porém era quando Saulo vinha, a maciez ia para os diabos, ou gemia e gritava palavras duras enquanto se deitavam e se deliciavam, ou resmungava pelos cantos, sempre encerrado em uma sala escura, castigado, mesmo que houvessem janelas e portas à disposição e sóis irradiando calor.

E Saulo foi atropelado: você não acredita, meu amigo, havia acabado de descobrir a maravilha que é cavalgar, atravessar as clareiras dos bosques à noite, incentivando o animal, cortando por entre as árvores; imagine você, eu, um velho, e só agora aprendi a viver com os cavalos, conversar com eles. Resolvi-me por um passeio dia desses e não sei como não ouvi uma boiada que era conduzida por uma estrada estreita, o tombo foi feio, mas poderia ter sido pior, agora uso uma bengala e manco da perna direita – o cavalo não sofreu um arranhão! -, mas não tem problemas, não perdi o trato com os bichos, posso passar horas conversando com eles, no curral.

- Eu recebo cartas de Saulo com bastante regularidade: algumas curtíssimas como essa da qual transcrevi aqui alguns trechos misturados as minhas REMEMORAÇÕES; outras longas, quando ele permanece meses em outras paragens - ou quando passa um tempo vivendo em círculos fechados até que consiga alargá-los. Espero poder encontrá-lo em breve, de preferência sem Samuel, não que eu não tenha apreço por ele, mas o jogo entre ambos me entedia, então prefiro mesmo que Saulo venha só, muito provavelmente eu não conseguirei acompanhá-lo, mas quero que ele ao menos me mostre, ao menos me faça ver alguma coisa que NÃO SE PODE. -

3 de abril de 2011

Sr. G., gaguejando, enfim:

Saulo, de braços erguidos, empunhando uma das espadas-de-são-jorge que arrancara do jardim, corria nu em nossa direção; e nós fugíamos por sobre as plantas, esmagando as begônias, sentindo o aroma das madressilvas se misturando ao nosso cheiro de homens feitos; corríamos arrancando as peças surradas do uniforme da Empresa, abençoando o momento do contato, quando o caule santo se tornaria verdume em nossa carne; e já no fim, exaustos, nós nos lançávamos nas flores ainda maculadas pelos meus cuidados do dia anterior e esperávamos Saulo recuperar o fôlego exaurido e irromper com um de seus ensinamentos: Nos guiemos sempre pelo exemplo que a natureza de bom grado nos concede: a Pinguicula, onde descansamos nossos corpos, se esforça para absorver o pedaço de carne que pousamos em sua corola, e por mais inútil que seja este esforço, morre pela gula.


Era cedo quando pela primeira vez o vi. Do outro lado da rua, apoiado naquele moribundo de cartola. Cruzaram a rua e deram de encontro com Sóstenes, que, em seguida, atravessado a catraca, se dispôs a falar do “abuso e da covardia destes vagabundos”. Depois subiu. E eu fiquei, pensando no serviço, esperando ansioso o horário de bater o cartão de mais uma tarde, para o dinheiro que o Administrador me vendia quando cuidava das flores do Edifício.

Mas Saulo veio, e soube ficar.

Sóstenes dizia de como nunca mais deixou de topá-lo: ao lado dos vendedores ambulantes de relógios, dos camelôs de DVDs a preços populares; com mulheresderrua ou cercado por homens fortes-de-gravata: sempre ele, magrelo, cabelos desgrenhados, a âncora espetada no ombro esquerdo e as acnes corroídas no rosto.

Estranha a ligação que se fixou entre ambos, Sóstenes e Saulo. Se falaram uma semana depois, no boteco que íamos com meu irmão. Naquele dia fiquei em casa. Ele me contou a história em nosso horário de almoço, quando já também eu fazia parte dos apóstolos. Eu estava no bar, ele me narrou, olhando pra uma das mulheres que dançava sozinha; queria criar qualquer tipo de coragem para uma conversa e olhava aquele corpinho se remexendo e me encurvava mais no balcão, aí então ela me olhou e eu levantei o copo e chamei para que se sentasse cá comigo e ela me acenou e com os dedos disse ‘pêra lá, vou no banheiro e já me aconchego por aí’ e eu virei o copo e pedi mais duas doses; foi então que Saulo me agradeceu e de um gole liquidou meu cortejo; Ei rapaz, eu falei, esse copo era meu; ele me olhou e sorriu e se sentou ao meu lado; disse, apertando minha coxa,

- aquela mulher está comigo, camarada;

e eu pedi desculpas, desculpa, eu não sabia e não quero causar qualquer tipo de confusão, amigo; então conversamos sobre futebol e depois sobre aquele dia, quando, na rua, eu tinha visto ele pela primeira vez; ele ria muito; riu gostoso e me passou os primeiros ensinamentos dizendo que os sábios são feitos para serem enganados pela loucura e os fortes para serem massacrados pela fraqueza; bebemos muito; estava amanhecendo quando Saulo, todo torto, se despediu de mim e foi falar com aquela mulher que dançava - com o cigarro pendendo da boca, se apoiando, largado, na parede, trocou duas ou três palavras e a moça lhe jogou a cerveja na cara e saiu batendo a tamanca no chão...

Com Saulo bebíamos e éramos felizes. Mijávamos nas flores escondidos das câmeras e sorríamos. Os dias com ele eram sempre cheios de obscenidades e fantasias absurdas. Saulo nos fez chafurdar nas alegrias da alma: no jogo, que era sempre violento; no sexo, que se transformava em escoriações por todo o corpo; no álcool, que era a bênção de todas os dias e em tudo o mais que a lustrosa e beatífica presença de Saulo nos inspirava.

Nos levou para casa de Maria e lá anunciou que Aqui o espaço é sagrado porque se vê batom no pescoço e barba na cueca. Saulo se abraçava com as mulheres e gritava alto: “Minha mãe me ensinou que vosso corpo, minhas primas, é o templo de deus; e eu vim aqui pra rezar!” Todos demonstrávamos estranheza, uma certa ojeriza por aquilo que se presenciava, mas o encanto que ele tinha e sabia projetar sobre nós era demasiado forte para nos esquivarmos. Estávamos sempre à sua volta, ouvindo suas palavras, as histórias que nos contava sobre deus e as vontades dos homens. Gostávamos de chamá-lo Profeta e ele ria. “Se meu primo ama o escândalo serei o escândalo porque é essa a minha obrigação”. E quando perguntávamos de Maria, ele costumava responder que “se estou ligado a mulher não me separarei da mulher, mas se estou livre da mulher não procuro a mulher porque assim me foi ordenado”.


No último andar do Edifício, ao estardalhaço dos sons que eram projetados pelas caixas de autofalantes, olhávamos Maria despencar pela janela sua urina santa; era a voz de Saulo que nos ecoava como oração barulhenta e desuniforme enquanto nosso desejo era nos lançarmos às pernas de Maria, bebermos de si a magreza de seu corpo nu; e a madrugada já nos corroía o cansaço e toda a sujeira nos fazia rir pelos gritos que ouviríamos do Administrador, ríamos e nos contorcíamos e nos atentávamos à fala de Saulo, que gritava sobre a fraqueza do homem e a força de sua palavra; o silêncio, ele dizia, é poderoso porque é a própria palavra pecadora, e por isso não sou dado à discursos e o pecado é nossa benção e nosso leite; se teu olho peca, sê teu olho.


Numa manhã, passávamos por uma igreja cheia de gente e perguntamos o que ele pensava. Nos contou, então, a história de um Motoboy e um Passarinho:

- Minha mãe certa vez me contou que um Motoboy saiu de manhã para o trabalho e quando atravessava o quarteirão sentiu um impacto no capacete. Parou a moto e viu no asfalto um Passarinho caído, com as asas tortas. Pensou que estava morto, mas quando chegou mais perto, percebeu que o bicho, mesmo apagado, ainda respirava. Se compadeceu com a fragilidade da situação: deixar a rolinha no asfalto seria sentenciá-la à morte por atropelamento. Resolveu, então, voltar para seu barraco. Lá, deitou o bichinho na mesa e tentou acudi-lo, mas tinha pressa para acordá-lo, que o dia estava cheio de tarefas; cutucava e nada, e espetava e nada, e acariciava e nada. Tinha de partir mas não podia, simplesmente, largá-lo lá, porque se o bicho, por ventura, acordasse e tentasse voar, podia cair e se tornar presa fácil do cachorro, e ali, na mesa, sem sua proteção, se tornaria comida dos gatos da vizinhança. Então o Motoboy procurou uma gaiola e alojou-o lá dentro junto com um pouco de água e migalhas de um pão velho, para caso dele acordar com fome. Isso feito, partiu em sua moto e correu para o serviço. No meio da tarde o Passarinho acordou, olhou para as grades de ferro, e para a água amarelada, e para a comida dura, e pensou: putaquepariu, matei o cara.

Outro dia, enquanto Maria lhe alisava os cabelos do peito e um de nós aquecia os jantares roubados da copa do Edifício, perguntaram sobre a âncora em seu braço:

- É uma homenagem ao corpo, minhas rolinhas, que o corpo é a âncora da alma.

E o que é a alma, Saulo?

- A alma, meu primo, é um iate cheio de mulher pelada e bebida.

Gostávamos de trafegar atrás de suas palavras, desejosos de mais ensinamentos. Saulo falava muito de Deus. Certa vez nos disse, quando já capengava:

- Deus brinca de esconde conosco, meus primos.

Então um dia a gente pega ele?

- Não, porque se trata duma brincadeira de esconde num quarto infinito, e a gentalha nem parou de contar até dez.

E você?

- Minha mãe abriu uma fenda entre os meus dedos e eu pude olhar e por isso fui castigado e por isso me sirvo à mesa da canalha; agora me passa essa garrafa.

E então abriu a garrafa e deixou a espuma se espalhar pela mesa. Aí jogou uma das mulheres que nos acompanhavam em cima dela e ficou tentando lambê-la enquanto a moça esperneava. Sóstenes olhava com olhos cada vez mais de admiração e espanto: Saulo sempre nos espantava, mas era em Sóstenes que essa admiração resplandecia uma paixão cega e maravilhosa.

- Vou te dizer uma coisa, meu primo, Deus é sempre o não pensado, tá sempre se escondendo. Minha mãe me disse que são várias as representações de Deus na nossa história e, eu te digo, todas verdades obsoletas. É desse deus que sou profeta. E eu aprendi que o profeta deve se misturar à sujeira, porque é dever dele se aproximar dos homens, se esborniar com os homens para salvar eles: o profeta é escolhido e não deve se furtar, é uma obrigação que lhe é imposta, meu primo, me traz outra garrafa.


A velha sem dentes, aqueles olhos azuis de gemas mortas, as lágrimas em cristais líquidos por entre as córneas desalmadas, o pano rosa de gorduras e restos de sujeira tapando-lhe os cabelos ralos e brancos, os pelos do queixo já emaranhados, sentada na mesa de madeira, batendo uma gengiva na outra, com as caspas polvilhando seu avental descolorido pelo tempo; ela gritava para Saulo, que pensava estar na sala ao lado, divisa entre a cozinha e o mundo todo, trazer um pouco d’água - e ele correndo, correndo a servi-la, a lhe falar gracejos de criança - e nós, fantasmas, quietos, sombras de som, prostrados ao seu entorno, ávidos por nos fazer presentes, estando lá com a condição de não estarmos, sentindo no ar pestilento de sua cozinha a força de sua presença, e a faca cega raspando a rapadura até amontoar o suficiente, que com as costas da mesma faca ela ajeitava às costas de sua mão trêmula que tamborilava o ar ao encontro de seu hálito podre.